quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Dedos cascudos não fazem unha suja

A mão direita toca a cerveja e leva do chão a poeira da noite passada. Já não se pode dizer, com as palavras do livro esquecido na estante daquela vizinha bonita de olhos fechados, coisas que perdem na língua o sabor do amargo.
No carnaval, o vento é algo importante, pois leva para longe o que é leve e descartável. Joga no mato, que não dá nem topeira, e corre a cachaça porque a morte é de graça. Quem dorme sozinho bebe e esquece que a sarjeta pior ainda não foi atingida, mas um dia será, com o sorriso do patrão que sabe que o salário não compra leite de cabra. Corre os olhos num instante tão breve quanto o olhar daquela bela mulher que sempre será de alguém.
Sinta muito, sinta bastante, sinta a serra que traz o frio que gela bem no verão tropical e faz aos estranhos as náuseas que já desejou quando queria faltar a aula que, hoje, não falta. Um dia alguém vai dizer que já não sabe onde colocou aquele prato de farinha. A vida vadia traz sorrisos, quem quer se vicia e quando se perde, lembra que sorriso é instantâneo e o agora não é agora, mas já foi e sempre será.

Isso é o que eu penso desses dias, pois dedos cascudos não fazem unha suja.
Pequeno devaneio carnavalesco.
???