terça-feira, junho 17, 2003

É, ultimamente tá difícil postar alguma coisa aqui... e como já disse o Roberto, eu acho q eu sou o desocupado mais sem tempo dessa cidade.



Falando nisso, cadê o Vermes, o parnasso? Deve tá em algum sarau politicamente correto, onde só tem mina feia e nerd se achando o intelectual, recitando trechos de algum livro cabeça e, quem sabe, escutando um rock alternativo-internativo. Apareça, ó grande verme!!! Falar em amizades distantes, eu tenho q responder o i-meio do Cássio... tá tudo uma bagunça esquisita, como se as portas do inferno estivessem se abrindo pra mim...

E já q eu tô com preguiça de continuar escrevendo merda, lá vai uma pérola do grande Yamadharma, só pra matar a saudade:

A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE GIÁCOMO CASANOVA
Por Ernesto Nakamura

Giácomo estava fodido. Sabia que desta vez fora longe demais. Seus irmãos o instruíram para vir para cá, à Palestina de 6 a.C. para esconder-se, até se reunirem de novo. Isso não ocorreu, o que significava que o golpe de seus irmãos fracassara. Significava também que cedo ou tarde os agentes da Intempol o capturariam. E, desconfiava, o tipo de crime que pretendiam cometer levaria a uma pena pior que "somente" ir para Prisão dos Homens que Nunca Existiram. E agora, José?

Bem, primeiro, comer, e cuidar também de outras necessidades, afinal já estava de tocaia naquela caverna fazia uns 15 dias, e sua natural tendência priáprica começava a considerar as cabritas locais apetitosas. Reparou que toda manhã uma moça trazia seu rebanho e enchia seu cântaro no regato. Tinha seus 14 anos e seu corpo moreno, adolescente e magro enchia Giácomo de desejo.

Considerou: estava na Palestina, em meio a semitas arameus, tão machistas como os paraibanos. Matam as filhas que perdem os tampos com qualquer um, mas aquele andar insinuante não enganava um conhecedor de corpos e almas do quilate de Giácomo. Assim, aproximou-se da moça e com muito jeito, apresentou-se como um mago viajante que por motivos próprios preferia não ser visto, mas pagaria bem se lhe trouxesse pão e vinho. E presenteou-a com algumas contas, anéis e pulseiras, parte de seu "tesouro", que lhe custara 30 reais nas lojas de bijuterias da 24 de março. E Giácomo farejou a ganância e a excitação da moça. Estrangeiros e magos atraem mulheres de vida pacata. Deu mais um passo: Insinuou maiores presentes em troca de certos favores, pois era viajante de longas noites solitárias...

A moça, muito salomônica, ofereceu a solução mediterrânea, que manteria sua virgindade mas aplacaria as carências carnais do pobre viajante. E assim, Giácomo teve sua felicidade per obscuratas vias.

Porém, Giácomo era, digamos, purista, e após alguns dias desejava a coisa mesma, mas a moça mostrava seu irredutível sangue de mercador fenício: sua virgindade estava fora de questão.

Giácomo pensou a respeito e chegou a uma solução satisfatória: possuía em sua bagagem o conjunto de primeiros socorros dos agentes de campo. Sabia que se misturasse as pomadas sedativas, hiperemolientes dermais com as coaguladoras, faria uma pomada para tornar o hímen supercomplacente. Um colega já o experimentara certa vez, em certa missão na Pérsia. Apresentou à moça, explicando ser "ungüento magico", permitindo-lhe brincarem o quanto quisessem, sem jamais feri-la. Ela duvidou, claro, mas Giácomo, como dissemos, tinha a lábia de Casanova. Alias, ele era o próprio, mas esta é outra historia...

E apostando seu membro e suas jóias, ela com uma faca à mão como promissória, jogaram o jogo dos deuses. E ela ficou muito satisfeita, muitas vezes.

As semanas se passaram, felizes, mas Giácomo esqueceu um pequeno detalhe: a moça engravidou. E seu noivo prometido descobriu. Mais chocado ainda ficou, ao verificar que ela era mesmo virgem. Desconcertado, pediu explicações. A moça confessou ao noivo sobre o mago viajante, e o noivo correu para tomar satisfação. Mas Giácomo velhaco, soube que ele viria e pregou-se uma peça: apresentou-se como um anjo, em missão sagrada. Alguns efeitos pirotécnicos convenceram o rival de seu poder e sinceridade. E o noivo foi-se feliz e contente, certo que seria pai de um grande rei. Mesmo não sendo seu filho verdadeiro, a promessa de riquezas e poder o convenceu a manter a farsa.

Giácomo partiu, sabendo que já abusara de sua sorte naquele local, mas ousou mais que imaginara. Os agentes o capturaram. E estavam furiosos, pois Giácomo engravidara a única mulher que não deveria de todo o Oriente Médio.

O Agente Nível cinco (ou, no jargão do século I, do Anjo do Quinto Círculo Celestial) Gabriel, cuspindo fogo, propôs executar imediatamente Giácomo. Seus companheiros Elimoel e Samael o impediram, alegando que a besteirada era deles, não do safado, pois, os agentes da Empresa deveriam, alem de vigiar aquela família, ficar de olho em desertores foragidos. Assim, consultaram seus superiores e, ao receberem a resposta, os três sorriram, maldosos, depois gargalharam. Foi a ultima coisa que viu antes de desmaiar, pois Gabriel sacou um objeto e lançou em Giacomo o que os aramaicos chamariam de relâmpago, e os agentes do século XXI, de descarga de taser. Um cheiro forte de vinagre o despertou. Sentiu dor por todo o corpo, o peito doía como se estivesse sufocando. Sentiu as mãos feridas. Olhou para elas e gritou. Estavam perfuradas por pregos enormes, fixando-o a uma... cruz! Estava crucificado! A dor e o sangue que escorria sobre seus olhos o impediram de ver os dois outros crucificados, mas ouvia seus gemidos. Conseguiu ver a seus pés uma mulher que gritava: "Meu filho, meu filho!" Identificou a pastora, agora mulher madura, e resmungou que ele que não era seu filho, mas o pai, o que a fez chorar ainda mais, ao reconhece-lo. Um escritor compulsivo anotava todos os seus gemidos como se fossem revelações. Então compreendeu porque os agentes sorriram tão maldosos. "Meu Deus!" E praguejou, sofreu e chorou bastante. Sua mente agonizante misturava frases em aramaico com palavrões bem cabeludos em português, que o discípulo cioso anotava, para gerar tremendas discussões entre os futuros comentadores. Pensou em contar ao discípulo toda a verdade, sobre a Empresa, sobre todos os segredos, mas no momento exato em que o chamaria, percebeu que os dois romanos de armadura que disputavam seus pertences a seus pés voltavam-se para fita-lo, e reconheceu seus rostos: Elimoel e Samael, ainda com o mesmo sorriso sádico, como somente os anjos do Senhor conseguem sorrir.

E Giacomo desistiu, sabendo-se derrotado. E seus últimos pensamentos foram sobre seu Filho, que teria acontecido com ele? Então o escriba parou e voltou-se para Giacomo, que engasgou em lágrimas amargas. Pois era seu Filho, também com o mesmo sorriso sacana dos seus captores...
Ide. Finita missa est.