domingo, janeiro 18, 2004

eu sobrevivi ao 50º dia...
e, de fato, a minha vida tem se mostrado
bastante interessante nos últimos tempos.
com as coincidências de sempre.

achei isso no meu caderno, meu último escrito...
a última letra do lexo.



FINITA MISSA EST

enquanto os loucos resmungam sonhos perdidos,
eu destilo ódio dentro de mim, e talvez a confusão
venha e me faça feliz, mais uma pedra sorrindo.

enquanto o silêncio dos doutores da morte não vem,
eu bebo à ilusão de um dia ter sido vivo, ou, quem sabe
ao delírio deste sonho fantástico, disforme e sem sentido.

e eles têm grandes lembranças
e levam as crianças pra casa
pro breve e inútil banquete
de sangue e desilusão.

de outro tempo foi esta memória amarga que ela pinta e mancha no meu peito
desenha alvos no meu rosto
e brinca de misturar as cores falidas da póstuma natureza.

e quando a desesperança reinar, estarei em seu belo calabouço,
esperando a visita matinal dos insetos famintos
– o amparo perfeito àqueles que ainda sonham com possibilidades extintas nesse mundo.

aguarde o próximo carnaval,
aguarde o derradeiro sinal,
que as tuas honras serão saciadas
que a tua glória será enfim forjada.

sempre que ela finge sorrir o meu coração pára
não sabe a minha angústia em fugir, e a chuva agradece
outro ato de incompreensão em sua triste trajetória.

sabem de mim o que se espera
levam o terço sagrado pro inferno
rezam injúrias e bebem do vinho
da última missa antes da eternidade.

(nov/2003)